Ano Novo e feriados na China: o impacto para as importações brasileiras
As datas festivas e os feriados na China acontecem em períodos diferentes do Brasil. Por isso, é preciso planejar bem a colocação do pedido, produção e o embarque para evitar atrasos e custos extras.
A China é o principal mercado fornecedor do Brasil, atraindo um grande número de importadores. Mas apesar da proximidade comercial, o país asiático tem grandes diferenças culturais em relação aos ocidentais. Uma delas é o calendário, em que datas festivas, como o Ano Novo, são comemorados em outros dias. Além disso, os feriados na China também são diferentes dos que conhecemos por aqui.
São dois grandes feriados anuais: a celebração do Ano Novo Chinês e o dia Nacional da China, que celebra o aniversário da fundação da República Popular da China, também conhecido por “Golden Week” ou “National Holiday”. Além destes, também há o Tomb Sweeping, o Dia do Trabalho, o Dragon Boat Festival e o Mid-Autumn Festival.
Durante os dias de feriado, as lojas, empresas e fábricas fecham as portas, os trabalhadores tiram folga do trabalho e as crianças não têm aulas nas escolas. E cerca de três dias antes dos grandes feriados inicia-se a maior migração anual de pessoas no mundo, de chineses dentro da China – praticamente todos voltam para a sua cidade natal.
Como estas datas influenciam muito na produção e comércio dos produtos, podem se tornar um ponto crítico na hora de embarcar a mercadoria. É preciso que o importador esteja atento aos feriados na China e planeje com antecedência a colocação de pedidos junto às fábricas, produção, e os embarques com as companhias aéreas e marítimas para evitar atrasos.
A Interseas conversou com Leonardo Storino Abromovicz – com grande expertise em transporte da Ásia para o Brasil, e Fábio Lima – especialista em gestão de compras e desenvolvimento de produtos também na Ásia, e traz mais informações sobre o assunto. Confira os detalhes.
Interseas – Há algum acúmulo/acréscimo de cargas em função desses feriados?
Leonardo Abromovicz – Sim, normalmente há um aumento causado pela antecipação nas compras dos importadores, para que os fornecedores chineses possam disponibilizar a carga a tempo, antes do início do feriado. Por outro lado, os armadores aproveitam as datas para promover os “blank sailings”, termo usado para quando há o cancelamento de uma viagem completa de um navio, que gera uma diminuição imediata na oferta de espaço para o transporte. Isso resulta em um aumento dos valores de frete para o período após o feriado.
Fábio Lima – O maior impacto é no feriado do Ano Novo Chinês. Isso porque as fábricas não entram em recesso com uma linha de produção pela metade. Ou seja, os fabricantes só irão aceitar um pedido se conseguirem terminá-lo antes de parar. Caso contrário, a produção apenas iniciará no retorno do feriado. Quando a fábrica está sem acúmulo e realizando a produção regular, o prazo de entrega é de no máximo 45 dias, dependendo do produto. Mas com o recesso, o tempo pode até dobrar.
Isso porque, neste feriado as empresas geralmente acrescentam mais uma semana de parada, tendo um total de recesso de 15 dias. Além disso, para complicar ainda mais, essa janela é móvel, algumas optam por parar dias antes, outras por 15 dias após. Na prática, isso faz com que tenhamos um período de 30 dias de “stand by” por aqui. É prudente considerar que de 20 de janeiro ao final de fevereiro praticamente nada acontece.
Para citar um exemplo, se a fábrica parar no final de fevereiro e o tempo normal de produção é de 30 dias, o ideal é considerar 60. Então, o importador, em vez de fazer o pedido no final de dezembro, deve fazer na metade ou final de novembro para não receber uma resposta negativa da fábrica. Dessa forma, um pedido que deveria ser embarcado no final de janeiro vai começar a ser produzido apenas em março; e se deveria chegar no Brasil em fevereiro, irá ser recebido aqui só em maio.
Há dificuldade de obtenção de espaço nas companhias aéreas e/ou navios?
Leonardo Abromovicz – Inevitavelmente no período que antecede o feriado, bem como nas semanas seguintes, há dificuldade de se obter espaço tanto no modal aéreo quanto no marítimo, principalmente para cargas que se tornam urgentes – não por sua natureza, mas sim por falta de planejamento do importador ou eventual atraso do fabricante.
Fábio Lima – A dificuldade de negociação realmente é muito em função da falta de planejamento para o prazo de produção. Como é uma época de linha de produção bastante concorrida, é preciso negociar bastante com a fábrica pois é o fornecedor que escolhe os pedidos que vai aceitar em função da grande demanda. Aí o importador só vai conseguir negociar o embarque após as tratativas com a fábrica estarem finalizadas.
Há aumento das tarifas de frete para os meses que antecedem os feriados?
Leonardo Abromovicz – Hoje temos o mercado de frete internacional controlado – na sua maior parte – pelo fator demanda versus oferta. Além disso, essa relação normalmente possui uma maior influência dos setores políticos e econômicos. Entretanto com a aproximação do feriado Chinês e o inevitável aumento da demanda, os armadores, com intuito de manterem o frete em um nível rentável, costumam promover mais de um blank sailing na mesma semana. Isso pode deixar o mercado, no período de apenas uma semana, com nenhuma capacidade de espaço na rota Ásia-América do Sul, costa Leste. O resultado é acúmulo forçado de cargas na origem, que não conseguem embarcar na data pré-feriado, fazendo o frete subir imediatamente. A sustentação deste nível de frete “pós-aumento” e o tempo que irá durar, bem como a possibilidade de um novo aumento nos níveis de frete – conhecido também como GRI (general rate increase) – na quinzena ou mês seguinte dependerá então da demanda do mercado.
Fábio Lima – Além da questão das tarifas de frete, é preciso que o importador conte com um aumento de custo após o Ano Novo chinês. Quando é iniciado o ano, o governo anuncia os novos valores para matérias-primas, encargos tributários, benefícios que irão ‘cortados’ ou reajustados, etc. Então, após este recesso, as fábricas já repassam os novos valores.
Com qual antecedência os importadores no Brasil devem solicitar seus bookings e/ou reservar espaços?
Leonardo Abromovicz – Para os importadores que possuem cargas que fiquem prontas em uma data próxima ao início de um feriado Chinês é importante que entre em contato com seu provedor logístico antes mesmo desta carga estar finalizada. O ideal seria de três a quatro semanas antes do início do feriado para evitar qualquer problema com falta de espaço e equipamento.
Fábio Lima – Para o Ano Novo, acredito que em setembro já é preciso começar a se programar para, no máximo, em outubro, poder alinhar com as fábricas as entregas em datas antes do recesso e assim reservar espaços para embarque. O limite máximo para os pedidos, e com risco de não ser aceito, é início de dezembro. Muitas fábricas já não conseguem mais atender grandes demandas, mas sempre é possível negociar. Lembrando que é um limite muito arriscado e pode-se ficar sem o produto. O ideal, então, é ter tudo fechado e documentado em novembro.
Quais as principais dificuldades e/ou reclamações que os agentes de carga enfrentam nesses períodos?
Leonardo Abromovicz – É comum nos dias que antecedem o feriado sejam feitas solicitações de importadores pedindo espaço livre para embarcar sua carga em um navio ou vôo que já está lotado, já que existem prazos para entrega da mercadoria ao cliente final aqui no Brasil. Muitas vezes também por contratarem o serviço de um prestador logístico sem a experiência necessária, enfrentam grandes atrasos nos embarques. O maior desafio do agente de cargas, nesse caso, é manter a excelência na prestação dos serviços, como em qualquer época do ano. Por isso é preciso fazer um trabalho de instrução junto às empresas, alertando que uma data especial se aproxima, e com a cooperação deles, pode-se passar por este período sem grandes complicações.
Fábio Lima – A grande questão é que as fábricas só param quando a linha de produção está ‘zerada’, ou seja, com todos os pedidos entregues. Então, muitas vezes, estes fornecedores acabam acelerando a confecção dos produtos para poder entregá-los no prazo. E aí, o que seria feito normalmente em 30 dias, estará pronto em 15. Em alguns desses casos, enfrentamos problemas de qualidade. Por exemplo, se um produto precisa ser colado, pode ser que não dê tempo de secar. Assim, é fundamental que os agentes de carga façam inspeções na fábrica, inclusive de ‘surpresa’, para manter um controle de qualidade, em vários momentos da etapa de produção.
Quais dicas ou recomendações você daria para as empresas que importam da China?
Leonardo Abromovicz – Planejamento é a palavra que vai fazer com que os importadores passem pelo período pré e pós feriado sem atrasos nas suas programações e sem surpresa nos preços do frete. Vale lembrar que esse valor pode até dobrar caso a demanda do mercado seja o suficiente para que os transportadores apliquem o GRI. Assim, os importadores devem informar seus prazos com máxima antecedência ao fornecedor logístico internacional, para que de acordo com esta programação, o agente de cargas possa, já com ênfase na garantia de espaço e negociação de frete, identificar o vôo ou navio que melhor se adequa às datas que atendam a necessidade do cliente. Mesmo que a carga ainda não esteja pronta para o embarque, o contato antecipado do agente de cargas com o fornecedor chinês previne problemas documentais e o cliente passa a receber atualizações diárias sobre os seus pedidos.
Fábio Lima – Planejamento, claro, e também contar com uma assessoria in loco, que possa fazer as negociações e as fiscalizações na produção e embarque direto da China. Como falamos, especialmente no Ano Novo Chinês, vive-se um período crítico de prazos, mas também de grandes diferenças climáticas em relação ao Brasil. O país asiático fica bastante úmido e, por exemplo, um produto têxtil pode sair com uma fibra contaminada com mofo e isso se agravar durante o embarque. Então, com uma equipe local, pode-se verificar todas estas questões e garantir qualidade e prazos.
Ficou interessado em importar da China e reduzir custos de produção? Tire mais dúvidas neste Guia Prático que a Interseas elaborou para as empresas brasileiras. Para mais informações sobre operações de importação ou prospecção de fornecedores na China, entre em contato com nossos especialistas e solicite um orçamento.
Atualizado em: 8 de janeiro de 2020