Atualização do Cenário Logístico: Desafios e perspectivas
Recentemente, operações de importação e exportação de todo o país têm enfrentado desafios logísticos dos mais variados.
Dificuldades como conseguir booking, entrar com CNTRs em terminais portuários, devolver contêineres vazios nos depots, omissões, atrasos, transferências e entre elas o recente caos logístico no aeroporto de Guarulhos que virou notícia nacional.
A Interseas têm buscado orientar e informar seus clientes, contando também com especialistas do mercado para entender e direcionar suas ações.
Pensando nisso, trazemos hoje uma entrevista realizada com um de nossos parceiros, Evandro Ardigó, Diretor operacional da ES Logistics, especialista em logística internacional com mais de 25 anos de atuação no segmento para compartilhar conosco este momento que estamos vivenciando.
Abaixo está o conteúdo de nossa entrevista exclusiva sobre o assunto.
Evando Ardigó é Bacharel em Administração de Empresas e Comércio Internacional pela Univali. É sócio-administrador da ES Logistics, uma fornecedora de soluções logísticas que hoje possui 16 escritórios distribuídos pelo país, com mais de 300 colaboradores, certificação OEA e ISO 9001.
Não somente, a ES Logistics é o 2º maior intermediário de transporte marítimo do Brasil nas exportações, tendo movimentado 35.701 TEUs no período de janeiro a setembro de 2024. No mesmo período, movimentou 32.888 TEUs em importações, sendo o 7º maior no ranking. Isso sem considerar cargas aéreas, rodoviárias e ferroviárias. (Fonte: Datamar)
Percebemos que dos últimos meses para cá não há previsibilidade no transporte marítimo. Observamos navios que viriam direto para o Brasil realizando escalas não programadas, navios que dificilmente chegam dentro do transit time acordado, omitem portos e assim por diante. Poderia comentar um pouco sobre alguns dos fatores que nos levaram a este quadro?
ARDIGÓ: Falando de mundo, a crise no Mar Vermelho gerou congestionamentos nos portos do mundo todo, além da falta de navios e contêineres. Isto gerou uma bola de problemas na logística mundial.
Falando do Brasil, este ano tivemos um aumento de 20% na movimentação de contêineres em comparação ao ano passado. O crescimento médio dos últimos anos era de 5%.
Ademais, a capacidade de movimentação dos portos diminuiu em relação ao ano passado devido à reforma do Porto de Navegantes e um acidente que aconteceu no Porto de Santos. E está tudo interligado, causando problemas em efeito cascata. Ou seja, a demanda aumentou e a oferta caiu.
E nos processos aéreos? Percebemos que além de um acúmulo de cargas em Guarulhos, existe uma dificuldade em obter tarifas para embarques aéreos até o final do ano, início de janeiro. Poderia comentar um pouco sobre essa dificuldade, e se há algo que os importadores podem fazer para embarcarem suas cargas urgentes?
ARDIGÓ: No ano passado já tinha acontecido um acúmulo em Guarulhos. Durante este ano, a cada feriado, o aeroporto de Guarulhos já apresentava dificuldades na operação. Com a dificuldade no transporte marítimo, muitas cargas foram transferidas para o transporte aéreo, aumentando a demanda. A operadora do aeroporto de Guarulhos enfrenta dificuldades para lidar com a demanda. Para embarcar as cargas urgentes a solução é pagar tarifas prioridade.
Há expectativa de aumento de voos cargueiros (excepcionais) para atender a demanda de final do ano?
ARDIGÓ: Não há, principalmente porque a maioria das cias. aéreas que trazem as cargas têm como prioridade os passageiros. Os clientes normalmente não querem pagar a mais para embarcar em aviões cargueiros. Então, não faz sentido para as cias. aéreas assumirem compromissos de longo prazo para alugar aeronaves, para uma necessidade de curto prazo do Brasil. O ideal seria o mercado prestigiar durante todo o ano os voos cargueiros e não só no momento de desespero.
Você percebe que outros países também enfrentam dificuldades logísticas? Sabemos que não existe bola de cristal, porém, o que podemos esperar de melhora para o próximo ano?
ARDIGÓ: Exportadores brasileiros estão perdendo clientes porque os outros países concorrentes do Brasil não sofrem tantos problemas. O Brasil precisa tomar ações de curto, médio e longo prazo.
Algumas ações de curto prazo são, por exemplo, a dragagem dos canais de acesso compatíveis com os navios que operam no Brasil. A maioria dos navios não conseguem utilizar toda sua capacidade por falta de calado. Outros navios, não conseguem operar em alguns portos pelo tamanho. Há 11 navios operando na costa brasileira que não conseguem entrar no complexo portuário de Itajaí-Navegantes. Estes navios têm 366 metros de comprimento e o máximo permitido é de 350 metros naquele porto. A obra de ampliação da bahia de evolução previa uma capacidade para navios de 400 metros. Mas a obra não foi finalizada por falta de dinheiro.
Como medida de longo prazo, precisamos de segurança jurídica e previsibilidade na obtenção de licenças para que grupos internacionais que querem construir novos portos tenham segurança de investir. Outra necessidade é a ligação dos portos por ferrovia. As rodovias já estão saturadas e com o crescimento previsto para os próximos anos, não será possível uma logística confiável sem a utilização do transporte ferroviário.
Os maiores problemas são estruturais e não depende somente da iniciativa privada para resolvê-los. Em Itapoá, por exemplo, a licença ambiental para o aumento do canal de acesso demorou oito anos para ser expedida. Finalmente foi expedida e até o fim do primeiro semestre de 2025 será feita. Itapoá terá um calado compatível com os maiores navios que operam na costa Brasileira.
E AGORA? PERSPECTIVAS PARA 2025
Além dos pontos apresentados pelo Evandro, gostaríamos de trazer algumas perspectivas regionais que devem ser consideradas para as suas operações em 2025. A FIESC realizou nesta terça-feira, dia 19, uma reunião em busca de soluções para o gargalo da logística de cargas marítimas em SC.
Entre os pontos comentados, apesar de alguns terem o potencial de afetar negativamente o comércio, como o crescimento da demanda e as greves, temos fatores positivos como a Retomada do Porto de Itajaí, o novo serviço da MSC, a retificação e aprofundamento de Itapoá e até mesmo mudanças em outros estados que podem ajudar desafogar a demanda.
Não deixe de se manter atualizado e trabalhar com profissionais experientes e especialistas, como os da Interseas e da ES Logistics, para que suas operações de importação e exportação sigam o seu fluxo da melhor forma possível neste cenário de grandes desafios que vivenciamos.